segunda-feira, 1 de junho de 2009

Casa Verde,

Casa Verde, de Amador Bueno a nossos dias
Início do séc. XX. A Revolução Industrial muda o perfil das grandes cidades européias, conflitos entre a organização dos trabalhadores que procuram lutar pela conquista dos direitos e o capital que procura se utilizar do desenvolvimento tecnológico (gerando a automação) para aumentar a acumulação de riqueza e de se expandir. Neste lado do oceano Atlântico, nossa São Paulo também sofria transformações. O final da escravidão, as levas de emigrantes que chegavam (e entre eles a vinda de militantes anarquistas) seu estabelecimento nas lavouras ou como mão de obra na industria que ensaiava seus primeiros passos. A cidade crescia e se espalhava pelo planalto piratininga transformando sítios em loteamentos, vilas que se tornaram dormitórios ou mesmo na região onde o núcleo que formava o bairro era a industria (o que pressupunha alguns serviços de infra-estrutura que a cidade tinha que fornecer).
Dentro desse quadro é que vemos o velho sítio da Casa Verde, que já fora propriedade do aclamado "rei" Amador Bueno (em 1641 pelos espanhóis residentes em São Paulo) e que posteriormente passa ser propriedade do militar José Arouche de Toledo Rendon, descendente de Amador Bueno. Foi nessa época pelo que consta em documentos do arquivo histórico do municipio que a região acaba por ser conhecida popularmente como "sítio das moças da casa verde" e sítio da casa verde. Em 1842 João Maxweel Rudge torna-se proprietário da área da margem direita do Tietê; seus herdeiros em 1913 lotearam a área onde pretendiam criar o bairro como "Vila Tietê".
O empreendimento é bem-sucedido. O nome, no entanto, não resiste a força popular das histórias do sítio das moças da Casa Verde. O desenvolvimento é lento só acelerado no ritmo que os benefícios chegam no bairro (a construção da ponte de madeira, chegada do bonde, a luz elétrica, a construção da igreja, o distrito de paz...). O bairro cresce, a cidade cresce. Hoje, uma megalópole.
Dentro do emaranhado de relações tão complexas é preciso olhar e descobrir "as pontas" que conduzem aos fatos bizarros do cotidiano, dos homens e mulheres que ocupavam um determinado espaço geográfico, sofreram e venceram dificuldades e limitações nas primeiras famílias pioneiras do bairro. E se chegar nos que hoje lá se estabelecem enfrentando novas (e as vezes velhas) dificuldades. Procurar o entendimento do processo que gestou essa cidade, recuperou a memória do micro universo do bairro (das ruas). Viajar no tempo através de documentos, fotos, relatos de família, conhecer o perfil do morador de hoje, unir esses fios e tentar desvendar um pouco da "alma" que pulsa nessa cidade e descobrir nela refletida o gens de ser a humanização.
Cronologia da Casa Verde
1638 - sítio com um total de 200 alqueires, propriedade do "todo poderoso" Amador Bueno Ribeiro (provedor da capitânia, capitão mor, ouvidor, contador de fazenda real, juíz de orfãos) - e aclamado pelos espanhóis - aqui radicado em 1641 como "rei". Na época era cultivado na região trigo, cevado, vinha, produtos considerados tipicamente europeus.
1794 - O tenente coronel José Arouche de Toledo Rendon envia ao seu irmão em Lisboa uma caixa de café produzido no sítio.
1852 - O sítio passa para Francisco Antonio Baruel passando por diversos outros donos.
1882 - João Maxwell Rudge torna-se proprietário do sítio.
1913 - Os herdeiros de Maxwell Rudge decidem lotear o sítio. Em 21 de maio o 1º lote é vendido. Elas dão o nome de Vila Tietê que afinal não foi assimilado pela população continuando a ser conhecida como casa verde.
1915 - Os irmãos Rudge constroem a ponte de madeira sobre o Rio Tietê.
1922 - Chegada do bonde no bairro.
1925 - Lançada pedra fundamental da Igreja S. João Evangelista.
1927 - Lançada pedra fundamental da Paróquia N.S. das Dores.
1928 - Lei nº 2335 de 28 de dezembro cria o distrito de paz da Casa Verde.
1937 - Chegada da luz elétrica do bairro.
1954 - A ponte de madeira é substituída pela atual de concreto.
Origem do nome Casa Verde
O que a lei reconhece como subdistrito na divisão política da cidade, muitas vezes não corresponde ao que a população considera como bairro. O bairro possui características muito próprias que, com o passar do tempo se reforçam e acabam por individualiza-lo de maneira inconfundível tanto para os que moram nele como no conceito geral. Na casa verde vemos um exemplo onde a denominação do bairro resulta da "voz anônima" dos que primeiro se fixaram ou afluíram para la seguindo referências populares e a "criação" de "Vila Tietê" teve que acabar por curvar-se a nomenclatura popular da casa verde. Há controvérsia quanto a origem do nome. Sabe-se no entanto que a história se entrelava com a de moças descendentes de Amador Bueno Ribeiro eram filhas do general José Arouche de Toledo Rendon muito populares entre os rapazes da faculdade de direito do Largo S. Francisco de quem o general foi o primeiro diretor. Alguns relatos dão conta de uma casa verde no sítio na margem dentro do Rio Tietê; outros falam da grande e nobre irmandade Arouche Rendon viviam numa casa verde numa antiga travessa do Colégio (hoje Anchieta). Elas eram conhecidas como "as moças da casa verde da travessa do colégio" as terras do general José Arouche de Toledo Rendon se estendiam até a margem direita do Tietê. Em 1852 morre dona Caetano Antonia, a última das "moças da casa verde" o sítio passa pela mão de vários donos até chegar a família Rudge que acaba por loteá-lo. Mas na voz popular a região continuou a ser chamada como casa verde numa referência a casa.

Sítio Morrinhos, lembranças dos Bandeirantes
Obras de restauro e conservação foram executadas entre os anos 2000 e 2002. A casa sede do Sítio Morrinhos é tombada pelo patrimônio Histórico.
A antiga propriedade colonial conhecida como Sítio Morrinhos, localizada no Jardim São Bento, conserva traços da arquitetura bandeirista com a presença de elementos hispânicos. Em taipa de pilão, a casa sede foi construída, provavelmente, em 1702, na margem direita do rio Tietê, distante dele cerca de um quilômetro, como forma de fugir das cheias. O nome “Morrinhos” deriva de sua implantação estratégica em elevação original, de onde se avista a várzea do rio e a cidade.
O primeiro proprietário de que se tem registro foi o capitão José Pinto Tavares, que adquiriu a propriedade em 1798. De 1817 até 1881, pertenceu à família Baruel, que ali residia. Antônio da Silva Prado comprou o sítio em 1881 e, um mês depois, vendeu-o ao Conde de Milleville. Como este não conseguiu pagá-lo, foi a leilão em 1902.
A Associação Paulista Pedagógica, representante do Mosteiro de São Bento, comprou a chácara e passou a utilizá-la como local de descanso para os monges e de práticas esportivas dos alunos do Colégio de São Bento. Várias reformas e adaptações foram feitas na casa-sede e construções anexas, que alteraram suas feições originais, sem comprometer a integridade do conjunto.
Os beneditinos venderam o imóvel a Sebastião Ferraz de Camargo Penteado em 1968, que loteou a área, formando o Jardim São Bento. Em 1977, Sebastião Penteado doou o lote com a sede do sítio à municipalidade.
Obras de restauro e conservação foram executadas entre os anos 2000 e 2002. A casa sede do Sítio Morrinhos é tombada pelo IPHAM, pelo CONDEPHAAT e pelo CONPRESP.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico

Um colecionador de relíquias na Casa Verde
Próxima meta de José Martiniano Sobrinho é montar um museu da Casa Verde.
O empresário José Martiniano Sobrinho, 60 anos, é sem dúvida nenhuma um morador exemplar da Casa Verde. Foi ele o idealizador dos festejos de comemoração do aniversário da Casa Verde. “Eu percebia que bairros vizinhos como a Freguesia do Ó, por exemplo, comemoravam o aniversário e aqui nada. Foi aí que, em 1988, tive a idéia”, conta.
Martiniano conhece tanto sobre o bairro que chega a impressionar. Datas, obras que não existem mais e fotos antiquíssimas não passam despercebidas desse bairrista confesso. Até a data da venda do primeiro lote de terreno ele sabe. “Foi há 93 anos”, explica. Sem falar no primeiro registro de casamento e nascimento que ele guarda, a sete chaves, em seu acervo particular. “Todos no bairro sabem que gosto de receber essas relíquias e me trazem”.
Esse conhecimento tinha de ser aproveitado em algum lugar e, pensando nisso, Martiniano criou há 25 anos o Jornal da Zona Norte. Com distribuição gratuita o quinzenário traz informações sobre os bairros da região. A redação, que é decorada com imagens antigas do bairro, lógico, funciona dentro de sua imobiliária. “A Casa Verde é um bairro provinciano, a maioria mora aqui há anos”. Mas nem tudo são flores. Martiniano acha que o bairro peca pela falta de lazer noturno. “Não temos cinemas e barzinhos, por exemplo”.
Homenagem é o que não falta na parede do escritório do empresário. São três condecorações de cidadão casaverdense. Uma da Câmara Municipal e duas da subprefeitura da Casa Verde/Cachoeirinha. O motivo: agradecimentos aos serviços e contribuições prestadas ao bairro. “Me orgulho muito deles”, reconhece, envaidecido. Mas ainda tem um sonho a realizar: “montar um museu da Casa Verde”. Alguém duvida?

O sítio das meninas da Casa Verde, há 150 anos despertando paixões
A primeira característica daquele pedaço da Zona Norte paulistana a chamar a atenção é a paixão. O amor que os moradores dos bairros enfeixados pela Subprefeitura Casa Verde / Cachoeirinha pela região chega a ser contagiante.
A primeira característica daquele pedaço da Zona Norte paulistana a chamar a atenção é a paixão. De fato, o amor que os moradores dos bairros enfeixados pela Subprefeitura Casa Verde / Cachoeirinha por sua região chega a ser contagiante.
Tanto que em alguns momentos ofusca outra peculiaridade igualmente marcante: a disparidade social. Ela salta aos olhos ao longo dos caminhos que separam as tranqüilas ruas da Casa Verde e a Vila Nova Cachoeirinha. E um exemplo marcante disso é a avenida Inajar de Souza, uma das principais vias de acesso da Cachoeirinha. Lá, logo na entrada da avenida a paisagem certamente não é das mais bonitas: à margem da Inajar de Souza fica um morro tomado por barracos. É a favela Futuro Melhor, a maior da zona Norte, com cerca de 20 mil habitantes.
Os contrastes não param por aí. Na área da subprefeitura convivem, por exemplo, densos núcleos de imigrantes portugueses, espanhóis e bolivianos, reunidos em torno do bairro do Peruche, que, por sua vez, apresenta a maior concentração de negros da cidade de São Paulo. E talvez esteja na convivência harmoniosa de todos eles uma das explicações da paixão dos moradores por sua região.
Paixão que remonta ao século 19, quando o lugar passou a ser conhecido por seu nome atual devido a um sítio na margem do rio Tietê cujo dono José Arouche de Toledo Rondon, batizou de Casa Verde. Toledo Rondon morava em uma casa de janelas pintadas de verde que chamava tanto a atenção que suas irmãs acabaram ficando conhecidas como “as meninas da Casa Verde”. O nome pegou e nunca mais mudou.
Em 1857, Toledo Rondon vendeu suas terras para Francisco Antonio Baruel, pai de um farmacêutico muito conhecido na cidade, que depois repassou uma parte ao tenente-coronel Fidélis Nepomuceno Prates. Finalmente, em 1882, elas acabaram nas mãos de João Maxwell Rudge cujos herdeiros as lotearam em 1897 para criar um bairro com o nome de Vila Tietê. No entanto, a lembrança das “meninas da Casa Verde” foi mais forte.
Contraste com os arranha-céus
Na Casa Verde chama a atenção, ainda, o pequeno número de edifícios. As casas de um, dois, no máximo três pavimentos se enfileiram rua após rua, em um curioso contraste com a barreira de arranha-céus que se avista do outro lado do rio Tietê, no centro da cidade. De acordo com a subprefeitura, o fato deve-se à proximidade com a pista de pouso do Campo de Marte: devido aos aviões que sobrevoam os bairros vizinhos a baixa altura, os prédios têm poucos andares.
As diferenças entre os distritos da Casa Verde, Cachoeirinha e Limão continuam. Com uma população de 313.176 habitantes, segundo o IBGE – dados do censo 2000 – espalhados por 26,7 km², os três distritos têm uma história curiosa no que se refere ao crescimento populacional. Enquanto os bairros da Casa Verde e Limão perderam moradores, a Cachoeirinha, localizada mais ao norte, cresceu, conforme os Dados Básicos para a Elaboração dos Planos Regionais das Subprefeituras, reunidos pela Secretaria do Planejamento (Sempla) em 2002.
À medida que se avança para o norte e aumenta a densidade demográfica, cai o índice de desenvolvimento humano da subprefeitura. Os 92,1% de alfabetizados colocam os distritos da Casa Verde e Limão acima da média do município; ao contrário do que acontece pouco adiante, na Cachoeirinha, onde os 89,8% de alfabetizados está abaixo da média da cidade. Nada disso, porém, afeta a paixão com que os moradores falam de seus bairros.
Largo do Japonês
Gerson Kunii, 58 anos, é um bom exemplo disso. Comerciante aposentado e há mais de 40 anos na Vila Nova Cachoeirinha, ele fez da participação nas associações de moradores uma demonstração de sua dedicação ao bairro, onde já foi diretor da associação de comerciantes locais e presidente da Associação Nipo-Brasileira. Essa é, aliás, outra peculiaridade do bairro cuja praça central é, ainda hoje, conhecida de todos como Largo do Japonês, devido ao proprietário de uma antiga padaria do lugar. E há até um movimento para que a praça – que hoje se chama Manoel da Costa Negreiros – volte a ostentar seu antigo nome.
“Depois da Liberdade, aqui é onde tem mais associações nipo-brasileiras”, explica Kunii. Por sinal, a história de amor da família Kunii com a Vila Nova Cachoeirinha já atravessa décadas. O pai e a mãe de Gerson, japoneses, mudaram-se para a região há mais de 80 anos. Gerson, por sua vez, tem três filhos, todos criados ali, onde também sempre trabalhou. Ele já teve uma papelaria na Casa Verde e um bazar no Peruche e ainda se espanta como o fato do lugar parecer crescer a cada dia.
Apesar da paixão pelo bairro – “um dos melhores lugares para se viver”, define – Gerson tem uma visão não perde a visão crítica. Uma de suas queixas mais repetidas nos últimos anos tem, entretanto, perspectiva de acabar: a estrutura que ficou conhecida como “O Esqueleto do Jânio”, um prédio que deveria ser um mercado municipal e que ficou parado durante anos, teve suas obras retomadas este ano e deverá abrigar o primeiro centro da juventude paulistano.
Samba no bairro
Motivo de orgulho para Gerson e toda a comunidade da subprefeitura são as escolas de samba que mantém quadras na região. São quatro só no grupo especial, onde desfilam as melhores agremiações carnavalescas da cidade: Unidos do Peruche, Rosas de Ouro, Mocidade Alegre e Império da Casa Verde, campeã do ano passado. Mas os moradores garantem que, entre blocos e escolas, são mais de 18. José Edmilson Silvestre, o “Ninho”, vice-presidente da Unidos do Peruche, explica os motivos porque não quer sair – “nunca mais” – dali: “Aqui tem tudo que eu preciso e estou a 10 minutos do centro da cidade”.
O comerciante José Zanola Neto não apenas concorda como encontrou uma maneira de demonstrar seu amor pela Casa Verde ao unir duas paixões, o bairro e o ciclismo. Dono de uma loja de bicicletas aberta por seu pai há 50 anos, há 13 anos Zanola promove um passeio ciclístico no dia 21 de maio para comemorar o aniversário do bairro. As duas, aliás, já são tradições na família: nos anos 70, era o pai de José Zanola quem costumava organizar corridas de bicicleta. “Gosto demais daqui. Sou Casa Verde de carteirinha”, anuncia Zanola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário