segunda-feira, 1 de junho de 2009

Butantã

Região era rota de passagem dos bandeirantes
A região do Butantã era rota de passagem de bandeirantes e jesuítas que se dirigiam ao interior do país. Foi na região do Butantã que Afonso Sardinha montou o primeiro trapiche de açúcar da vila de São Paulo, em sesmaria obtida em 1607. As terras da antiga sesmaria tiveram várias denominações: Ybytatá, Uvatantan, Ubitatá, Butantan e, finalmente, Butantã.
Posteriormente, a sesmaria foi doada para a Igreja do Colégio São Paulo. Há duas versões para o significado do nome Butantã: "terra socada e muito dura" e "lugar de vento forte".
Após a expulsão dos jesuítas , em 1759, as terras foram confiscadas e vendidas. Um dos últimos proprietários foi a família Vieira de Medeiros que vendeu as terras para a Cia. City Melhoramentos, em 1915, responsável pela urbanização das margens do rio Pinheiros. Datam do século XVII e XVIII duas construções históricas localizadas na região do Butantã, respectivamente a Casa do Sertanista e a Casa do Bandeirante, ambas tombadas.
A região do Butantã era constituída por sítios, como o sítio Butantã, sítio Rio Pequeno, sítio Invernada Grande ou Votorantim, sítio Campesina ou Lageado e sítio Morumbi. O desenvolvimento do bairro ocorreu a partir de 1900, sobretudo com a implantação do Instituto Butantã, e Cidade Universitária.
O Instituto Butantã foi oficialmente inaugurado em 1901. Sua origem está associada ao combate da peste bubônica, que por volta de 1898 causava uma epidemia em Santos, litoral paulista. Para produzir o soro contra a peste, foi escolhida uma área fora do perímetro urbano da cidade de São Paulo. Assim, foi instalado um laboratório junto ao Instituto Bacteriológico, na fazenda Butantan, que dois anos mais tarde recebeu o nome de Instituto Serumteráphico, passando a atuar na área de pesquisa e produção de soros, sob a coordenação do médico Vital Brazil.
Somente em 1925, o nome oficial passou a ser Instituto Butantã, hoje vinculado à Secretaria de Estado da Saúde. O conjunto arquitetônico foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 1981. O local onde está instalado o Instituto é apenas uma parte da propriedade que abrangia também o campus da Universidade de São Paulo.
A partir dos anos 20, começaram a surgir os primeiros bairros como Vila Butantã, Vila Lageado e Cidade Jardim. Nos anos 30, surgiram os bairros Peri Peri, Vila Clodilte, Vila Gomes, Água Podre e Caxingui. Nas décadas de 40 e 50, foram os bairros Jardim Guedala, Previdência, Vila Progredior, Vila Hípica, Jardim Ademar, Jardim Trussardi, Vila Pirajussara. Nos anos 40 a Companhia Imobiliária Morumby dividiu os últimos lotes da antiga fazenda Morumbi. Até então ocupado por chácaras e pequenas fazendas, o Morumbi se tornaria área residencial a partir de 1948. Seu nome possui duas interpretações: uma corruptela de Meru-obi, que significa mosca verde, ou Marâ-bi, que significa luta oculta. Entre os anos 50 e 60 surgiram os bairros Rolinópolis, Esmeralda, Ferreira, Monte Kemel, Vila Maria Augusta, Jardim Bonfiglioli, Jardim Pinheiros entre outros. Há, ainda, dois conjuntos habitacionais importantes, Cohab Educandário e Cohab Raposo Tavares.
Quase a totalidade da área abrangida pela Subprefeitura Butantã está conurbada aos municípios vizinhos de Taboão da Serra e Osasco. O intercâmbio entre esses municípios e o município de São Paulo é intenso em termos de comércio, serviços e lazer.
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Casa do Bandeirante, uma homenagem ao passado paulista
Situada atualmente de frente às margens do Rio Pinheiros, no Butantã, a Casa do Bandeirante tinha originalmente os fundos voltados para o rio, antes do seu curso ser retificado. Pelas características arquitetônicas, estima-se que seja do século XVIII.
As paredes externas, com cerca de 50 centímetros de espessura, foram construídas em taipa de pilão, técnica que consistia em socar o barro num taipal – pranchas verticais de madeira -, com uma mão de pilão.
As pesquisas históricas efetuadas não remetem ao seu primeiro proprietário e nem à data da construção. Por suas características arquitetônicas, estima-se que seja do século XVIII. O local passou a ser conhecido como Sítio do Rio Abaixo dos Pinheiros a partir de meados do século XIX.
Em 1912, a Companhia City de Melhoramentos adquiriu a propriedade com 122 alqueires e doou a casa e uma área de 14.000 à municipalidade. Sua restauração foi iniciada pela Comissão do IV Centenário de São Paulo e, a partir de então, passou a ser denominada de Casa do Bandeirante, em homenagem à figura do bandeirante e também como uma forma de glorificar e enaltecer o passado paulista. Um museu que reconstruía a sede de um sítio paulista setecentista foi montado com móveis e utensílios históricos adquiridos no interior de São Paulo e Minas Gerais.
Com a criação do Departamento do Patrimônio Histórico, em 1975, a casa passou a ser administrada pela Divisão de Iconografia e Museus e sua concepção museológica foi modificada, dando lugar a mostras, eventos e exposições temáticas sobre diversos momentos da história paulista. Em 1982, foi tombada pelo Condephaat.
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico

Butantã. Terra firme para a ciência, a educação e os contrastes sociais
No extremo oeste da cidade, a região tem cinco distritos em 56,1 Km2 de área e uma população predominantemente adulta de 337 mil habitantes, maior do que a de municípios como Bauru, por exemplo.
1607. À margem do Rio Pinheiros surgia o primeiro trapiche de açúcar em São Paulo. O local era conhecido como Ubutatã, palavra tupi para ‘terra firme’ ou ‘terra dura’. Nascia o núcleo do que é hoje a região do Butantã, no extremo oeste da cidade, com cinco distritos em 56,1 Km2 de área e uma população predominantemente adulta de 337 mil habitantes, maior do que a de municípios como Bauru.
2005. Quatro séculos mais tarde, a ‘terra firme’ mantém o caráter de vanguarda que na época foi ocupado pela atividade econômica do açúcar: é nessa parte da Capital que se encontram entidades emblemáticas da educação, ciência e saúde do País, como a Universidade de São Paulo, o Instituto Butantan e o Hospital Albert Einstein. Foi na região também que, em 2004, uma escola municipal ousou um modelo pedagógico revolucionário, à luz das experiências da Escola da Ponte, de Portugal.
Desde 2004, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Desembargador Amorim Lima, próxima à USP, aplica alguns conceitos desenvolvidos ao longo de mais de uma década na escola portuguesa. A principal mudança? A maioria das aulas expositivas foi trocada por aulas-pesquisa, vivenciadas em grupos de cinco alunos, todos reunidos numa sala ampla.
Segundo a diretora Ana Siqueira, o fato de os alunos trabalharem no espaço coletivo, lidando com questões pessoais confrontadas com as necessidades do grupo, ajuda a criar em cada um sentimentos de responsabilidade, solidariedade e respeito. “A proposta é que os alunos vivam a cidadania já na escola”, pontua a diretora. Possibilitar aos jovens autonomia no aprendizado é outro objetivo do projeto. “Queremos que eles se apropriem do processo de aprendizagem, para que comecem a entender como eles aprendem e do que mais gostam, e entender também que a gente não pode fazer só o que quer”, explica Ana.
Escola sem provas, com muitas pesquisas
A avaliação na Amorim Lima também é diferente. Os alunos não fazem prova. Delineiam objetivos em suas pesquisas e tarefas diárias, que, ao serem atingidos, valem como avaliação. Uma vez por semana, um professor-tutor se reúne com um grupo de 15 alunos para um acompanhamento mais próximo do trabalho realizado durante a semana, incluindo conversas e avaliação dos planos de estudo. “Ficou legal, porque a gente fica mais à vontade, pode pedir a opinião de algum colega do grupo ou perguntar para a professora”, conta a aluna Naíma D’Auria Rocha, de 11 anos, desde 2000 na escola.
As mudanças na metodologia pedagógica da Desembargador Lima começaram em 1999, quando mães, educadores e voluntários da comunidade se engajaram em projetos extra-curriculares, como a Oficina de Brincadeiras, a Cia. de Mães para Teatro de Boneco e a Oficina Cultural Brasileira. Hoje, atividades da oficina de cultura - dentre as quais capoeira, flauta, circo e danças regionais - estão incorporadas ao currículo.
A meta agora é trazer para o novo modelo todos os 840 alunos da escola de 7 a 14 anos. Hoje, metade (420) já aprendeu a ver o aprendizado como um processo em construção sem fim. “Saímos do lugar de detentores do conhecimento, para sermos orientadores do aluno em sua aprendizagem”, comemora a professora Cleide Portis.
"Cidade dentro da cidade"
Na outra ponta da educação - o ensino superior-, o bairro do Butantã também saiu na frente, com o campus da maior instituição de ensino superior e de pesquisa do País e a terceira da América Latina, com 44.696 alunos, 4.953 docentes, 14.905 funcionários, além de 487 cursos de pós-graduação (dados de 2004/USP).
Uma verdadeira cidade dentro da cidade, onde se “escondem”, aos olhos da maior parte dos habitantes, instituições de ponta nas áreas científica e tecnológica, como o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
O primeiro é responsável, por exemplo, pela produção anual de dois milhões de doses de radioisótopo, um tipo de material nuclear fundamental para o diagnóstico e tratamento de algumas doenças graves. O IPT, além de realizar projetos de desenvolvimento de produtos e processos em vários campos da engenharia para empresas privadas e órgãos públicos, oferece cursos nas áreas de excelência tecnológica, como MBA em Governança de TI (Tecnologia da Informação).
Instituto Butantã
Bem ao lado da Cidade Universitária está o Instituto Butantã, mescla de história e pioneirismo. Primeiro centro brasileiro a fabricar soros antipeçonhentos, atualmente o Butantã responde por 80% da produção de vacinas e soros consumidos no Brasil e, a partir de 2006, começará a produzir a vacina contra a gripe (Influenza), tornando o país auto-suficiente e barateando o custo das campanhas de imunização de idosos, realizadas desde 1999.
No próximo ano, estará concluída a fábrica de onde sairá essa vacina, com 2/3 de investimentos pelo Ministério da Saúde e 1/3 pelo governo do Estado. Fundado em 1901 como Instituto Serumtherapico, mais do que abrigar uma das maiores coleções de serpentes do mundo, o Butantã é referência internacional. Este ano, assinou convênio com o NIH (Instituto Nacional de Saúde/EUA)para a produção e exportação àquele país da vacina contra o Rotavírus, responsável pela infecção de 135 milhões de crianças e pela morte de 600 mil no mundo. No início de junho, o Instituto também teve a aprovação do Centro de Doenças Infecciosas norte-americano para fornecimento de soro anti-diftérico para os Estados Unidos.
Mas nem só de pesquisas e produção de vacinas vive o Butantan. É um dos pontos turísticos da cidade, com boas atrações culturais e educativas. Os visitantes podem optar entre o parque com o serpentário e o macacário ou os três museus - Biológico, Microbiológico e Histórico - que, aliás, ganharam um sistema de bilheteria única, uma economia para quem visita os três.
Não é cobrada entrada de crianças de até 7 anos e de idosos. O Museu Biológico, reformado recentemente, é um dos poucos do mundo que exibe animais vivos. No Microbiológico, crianças e adultos podem conferir modelos gigantes de bactérias, vírus e protozoários, e simulações computadorizadas do desenvolvimento de doenças infecciosas.
Patrimônio tombado
Patrimônio científico brasileiro, o Instituto Butantã é também um bem tombado pelos órgãos do patrimônio histórico municipal e estadual. Na região, outros bens mantêm resguardados pedaços da história de São Paulo: a Casa de Vidro, a Casa do Sertanista, a Casa do Bandeirante, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e a Capela do Morumbi. Esta última, em plena avenida Morumbi, é uma das últimas reminiscências da fazenda de chá que, no início do século XIX, deu origem e nome ao bairro.
Números
As paisagens, as condições sociais, as atividades econômicas... De um ponto a outro, no Butantã o sinal é de grandes contrastes. São 81 favelas, que “acolhem” 13% da população local, e 3.649 domicílios em áreas de risco, representando 10% de todas as residências existentes nos cinco distritos: Butantã, Morumbi, Vila Sônia, Raposo Tavares e Rio Pequeno (dados 2000/PMSP).
Segundo a Subprefeitura local, enquanto 60,58% dos moradores do Morumbi ganham mais do que 25 salários mínimos, em Raposo Tavares, apenas 7,2% estão na mesma situação. Ao contrário, mais de 40% dos habitantes de Raposo Tavares e 34% dos de Rio Pequeno recebem até 5 salários mínimos, enquanto nos distritos Butantã e Morumbi esse índice não passa de 14%.
A atividade econômica também difere de um território para o outro: os serviços estão concentrados no Butantã e no Morumbi, e o setor industrial, na área de Raposo Tavares, que é cortada pela Rodovia de mesmo nome (média de 70 mil carros/dia), um dos eixos rodoviários que fazem a ligação norte-sul do país.
Trabalho social
Às vezes não é preciso andar mais do que alguns metros para observar as disparidades. É o caso de quem freqüenta o espaço do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP). Bem próximo à divisa entre um dos bairros mais luxuosos - o Morumbi - e da 2ª maior favela da cidade, o programa é um exemplo da rede de ação social que foi sendo construída na região em resposta a esses contrastes.
O ginecologista Daniel Klotzel é um dos 160 voluntários do programa da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, que presta atendimento médico e hospitalar a 10 mil crianças da favela. Ali são desenvolvidas também ações sócio-educativas para a comunidade do complexo Paraisópolis, que possui 1/3 de sua área no Butantã (Morumbi) e 2/3, no Campo Limpo.
Há cinco anos, Klotzel dedica parte das terças-feiras para ajudar em ações de planejamento familiar e no curso de gestante oferecidos no PECP. Essas horas são para ele “um exercício de sua cidadania”, e uma forma de colaborar com quem precisa e não tem condições de pagar por um serviço de excelência em saúde, como o prestado no vizinho Hospital Albert Einstein, onde trabalha. “O planejamento é uma ação muito importante, porque é um apêndice da saúde da criança, de seu bem-estar”, observa o voluntário. Jocimara de Jesus, mãe do recém-nascido Juan Pablo, concorda com o Dr. Klotzel.
Depois de participar do curso de gestante, ela se sente mais preparada para cuidar bem do seu primeiro filho, que desde que nasceu há 6 meses, é atendido no ambulatório do PECP. “É um plano de saúde”, resume Jocimara, que mora logo ao lado da unidade, em um dos barracos de Paraisópolis.
Meio ambiente
Outra questão que preocupa no Butantã é a degradação ambiental, principalmente com o desmatamento nos distritos mais periféricos Raposo Tavares e Rio Pequeno, onde, ano a ano, comunidades carentes vão invadindo terras atrás de moradia. Segundo dados do Atlas Ambiental de São Paulo(2004), de 1991 a 2000, quase 121 hectares foram desmatados no primeiro distrito, e 49 hectares, no segundo. Felizmente, o problema, por enquanto, ainda contrasta com uma enorme área de cobertura vegetal: quase metade dos 56,1 Km2 de toda a região é verde.
O Parque da Previdência, no km 10 da Raposo Tavares, é um desses espaços de natureza, onde se pode encontrar, por exemplo, um jequitibá com aproximadamente 150 anos e várias espécies da Mata Atlântica. É ali também que se instalou o primeiro Centro de Educação Ambiental (CEA) da Prefeitura de São Paulo.
Criado em 1986 e sediado no prédio da antiga estação de tratamento de água do parque, o CEA possui um orquidário, um Museu do Meio Ambiente e oferece cursos e oficinas gratuitos à comunidade sobre temas ambientais, além de trilhas ecológicas monitoradas. O próximo módulo básico de cultivo de orquídeas, por exemplo, será ministrado de outubro a dezembro (30 vagas). As inscrições podem ser feitas a partir de 26 de setembro. Informações e inscrições CEA: 3721-7430 (8h/17h).

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